quinta-feira, 16 de junho de 2016

Você tem ZERO lembranças

Vicei no Snapchat, e como não poderia ser diferente o motivo é esse: eu adoro ver a vida dos outros, sim! Por essa razão, amo youtubers (principalmente aqueles que colocam o meu tipo favorito de vídeo: o daily vlog). E pode me chamar de fuxiqueira, a verdade é que passo longe disso. Não gosto de falar da vida dos outros, mas gosto de saber da vida dos outros – se eles quiserem falar, claro.
Meu namorado acha isso, nas palavras dele, “estranho”, mas sei que quando ele me vê assistindo um vlog de uma youtuber mostrando seus produtos favoritos do mês, ou viajando com a família, ele pensa que sou uma aberração. Mas tudo bem, a verdade é que quase não tem explicação mesmo.
A grande graça em ver a vida dos outros na internet, é ver que aquelas pessoinhas bonitinhas, inteligentinhas e engraçadinhas têm uma vida quase igual a minha. Com exceção de que elas ganham dinheiro gravando aquilo, e eu não. Sei que o que é mostrado ali não é verdade, que ninguém faz uma festa todo sábado, ou tem uma noite de pizza com os amigos em dia de semana, ou consegue comprar maquiagem da MAC e roupa da Zara todo mês. Mas tirando tudo isso, coisas que para mim e muita gente são impossíveis de serem feitas, eu foco naquela parte onde a pessoa grava vídeo de pijama,  fala que está mesmo com o cabelo sujo, quando o cachorro começa a latir de fundo ou a câmera cai do suporte quando a pessoa que estava gravando no carro breca de um jeito brusco. Essas sim são minhas partes favoritas.
Mas aí veio o Snapchat e eu penso que ele alimenta meu vício de uma maneira um pouco estranha. São vários vídeos despejados de hora em hora ao longo do dia no seu celular que serão apagados em 24 horas. Ou seja,  me sinto quase na obrigação de checar o aplicativo quase o tempo todo, com medo de perder alguma coisa legal.
O problema é que além de diminuir meu tempo produtivo na vida, não posso separar um tempo do final do meu dia para ver os snaps todos, como faço com o youtube, afinal, muitos já se foram espaço afora! Bye, bye. Foi então que um pequeno desespero apareceu em mim, aqueles vídeos foram apagados do universo!
Claro que você tem a opção de salvar um vídeo ou foto sua até o momento de serem apagados (1 dia depois), mas acontece que às vezes a gente não se dá conta de que vamos querer ver aquela filmagem depois em 24 horas. Me dei conta disso depois que viajei pela primeira vez para o Rio de Janeiro e gravei vários snapchats e não salvei, porque no momento me pareciam só bobagens. Acontece que perdi tempo gravando os snaps e não filmei nada na minha câmera, ou seja: quase não tenho lembranças daquela viagem.
Levando isso em uma escala maior, se não soubermos usar as ferramentas que temos e teremos, vamos acabar sem lembranças. E não estou falando de fotos e vídeos, mas lembranças na mente mesmo. Quem já passou um show inteiro filmando a banda e esqueceu de ver o espetáculo com os próprios olhos , sabe do que estou falando. Gravar distrai, e ninguém aproveita o momento por completo quando está com uma câmera na mão.
Esse imediatismo de consumo e” deletação” (alerta de palavra nova!) de conteúdo me pareceu preocupante. Apesar de ser muito divertido, o aplicativo é  mais uma representação de que estamos consumindo conteúdos picados sem parar e não guardamos nada deles. Acabam sendo deletados da nossa cabeça, e o pior, com direito a contagem regressiva para a exclusão.